Morte e Reencarnação

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Porque é que a morte é necessária? Porque é que a alma não pode continuar a progredir e a evoluir no mesmo corpo?

Por enquanto, morrer é preciso – a morte é necessária. Nada podemos fazer por um tempo muito prolongado, de uma vez só. Se jogamos durante quarenta e cinco minutos ou uma hora em seguida precisamos de descansar. Acontece o mesmo com a nossa aspiração. Suponha que vivemos até aos sessenta ou setenta anos na Terra. De sessenta ou setenta anos podemos meditar durante vinte ou trinta dias e, mesmo assim, por apenas algumas horas. Um ser humano comum não consegue aspirar continuamente por uma hora durante a sua meditação. Como terá ele a aspiração, a realidade ou a consciência que o levará à Verdade eterna ou à Consciência imortal, todas de uma só vez?

Se por um lado, a morte nos ajuda, permitindo que descansemos, por outro quando regressamos, fazemo-lo com uma nova esperança, uma nova luz, uma nova aspiração. Mas, se fossemos dotados de uma aspiração consciente, de uma chama ascendente no nosso interior, no decorrer desse tempo, veríamos que a morte física pode ser facilmente conquistada. Chegará o dia em que a morte não será necessária. Mas ainda não possuímos tal capacidade; somos fracos. No entanto, existem mestres espirituais, almas libertas, que possuem domínio sobre a morte, deixando os seus corpos quando o Divino assim deseja.

 Um homem comum que carregou o peso de uma família durante vinte, trinta ou quarenta anos dirá: “Estou cansado. Agora preciso de descansar.” Para ele, a morte tem significado; a alma entra na região das almas e desfruta de um breve descanso. Mas, para um guerreiro divino, para um buscador da Verdade Última, a morte não tem significado. Ele quer fazer progresso contínuo, sem interrupções. Portanto, tentará viver em eterna e constante aspiração, e com essa eterna aspiração procurará conquistar a morte, para que se possa tornar uma eterna manifestação exterior do Divino que há em seu interior.

A morte é dolorosa?

 Depende do indivíduo. Se ele não rezou nem meditou e não tinha uma vida espiritual, então ser-lhe-á doloroso separar-se da sua vida, por não se querer entregar à Vontade de Deus. Primeiro, por não lhe ser permitido saber ou sentir o que é a Vontade de Deus. Depois, por não sentir a Proteção, a Orientação e o Cuidado consciente de Deus, ele pensa que está completamente perdido. Neste mundo, ele nada pode fazer, no outro mundo, tudo é incerteza. Quando não há aspiração, há um medo tremendo, pois, as pessoas comuns sentem que a morte é algo totalmente desconhecido. Tudo é desconhecido. Não sabem para onde irão. Mas os buscadores sabem que estarão a ir ao encontro do Supremo, à Morada do Senhor. Não é sabido por eles no momento, mas aquela consciência, aquele plano, é um reino de paz e descanso. Ele pertence ao Supremo, seu Eterno Pai, e, portanto, não temem.

Mas, é claro, existe a dor física. No momento da morte, até ao último instante, se alguém está a sofrer de alguma doença e se não consegue suportá-la com algo mais elevado ou mais profundo, naturalmente que os seus últimos momentos na Terra serão extremamente dolorosos. Mesmo o último momento será bastante doloroso, pois o ser-morte virá numa forma muito destrutiva. Esta força-morte, o ser-morte, manifesta-se em cada indivíduo de uma forma diferente, de acordo com o que sua alma alcançou e realizou na Terra.

Pessoas comuns, que não aspiram, pessoas, que toda a sua vida terrena, mergulharam nos prazeres da ignorância sentirão a morte como um ser terrível, implacável, uma figura negra e horrenda. Às vezes, a força-morte possui vários subordinados, que aparecem diante das pessoas moribundas, que frequentemente veem tigres ou seres desmesuradamente enormes e ficam amedrontadas. Mas os buscadores sinceros veem o seu Mestre espiritual ou um ser luminoso, como um anjo, levando-os numa carruagem. Esses buscadores trabalharam arduamente, aqui na Terra durante muitos anos e agora a Mãe-Terra quer conscientemente oferecer-lhes a sua bênção e divina gratidão.  O Seu Piloto Interior ou o seu Guru carrega-os, mas os buscadores veem a benevolente Mão de Deus bem à sua frente, carregando-os no Seu Barco Dourado até a outra Margem. Algumas pessoas veem familiares que partiram há muito tempo, e é como se alguém que soubesse o caminho os estivesse a levar a um novo mundo.

 Se estivermos amarrados pelos laços da ignorância, haverá dor no nosso interior e exterior no momento da morte física. Essa dor foi provocada pela ignorância da mente e do corpo humano, os quais nos impedem de entrar no reino da morte e ir consciente e deliberadamente além desse reino. Mas, se o véu de ignorância for removido, então não haverá dor, nem na morte nem na atmosfera-mundo. Se pudermos entrar no mais profundo da nossa dor e sofrimento, que é a ignorância, e se pudermos transformá-la com a luz da nossa alma, a morte será apenas o veículo, que nos transportará até à margem. Essa outra margem é a Luz Eterna que nos guia, protege, forma e molda através da Eternidade.

Extratos do Livro “Morte e Reencarnação” de Sri Chinmoy